"QUE A ÁGUA SEJA REFRESCANTE. QUE O CAMINHO SEJA SUAVE. QUE A CASA SEJA HOSPITALEIRA. QUE O MENSAGEIRO CONDUZA EM PAZ NOSSA PALAVRA."
Benção Yoruba
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domingo, junho 21, 2015

Os donos da verdade - Luiz Antonio Simas

Esta é uma de minhas histórias preferidas. A epistemologia decolonial, que preconiza a localização do pesquisador, narrada pela tradição iorubá, por este conto/mito de Exu. Laroyê!
Luiz Antonio Simas é um de meus intelectuais favoritos, pois sua narrativa vem da encruzilhada, este lugar epistemológico que ainda precisamos descobrir e assumir.

Luiz Antonio Simas: Os donos da verdade

Em tempos intolerantes, escutem a lição de Exu e ensaiem outras miradas antes de matar ou morrer por crenças

O DIA
Rio - Contam os iorubás que o orixá Exu um dia resolveu desafiar dois sabichões arrogantes na praça do mercado. Eles garantiam, cheios de teorias, conhecer a verdade sobre determinado acontecimento que abalou o povo. Exu afirmou aos doutores que o dono da razão é aquele que consegue dizer qual é a cor do gorro que ele leva na cabeça. Feito isso, Exu colocou os sabichões em lados diferentes da feira e passou pelo meio deles, gingando ao som dos tambores ancestrais. Acontece que a carapuça do orixá era vermelha de um lado e preta do outro. O que olhou Exu pela direita enxergou o filá preto; o que o olhou pela esquerda viu um gorro vermelho.
Um não admitiu que o outro pudesse estar certo e os dois acabaram se matando em nome da verdade absoluta. Exu soltou a gargalhada zombeteira e seguiu seu caminho, em busca de um bode para descarnar, realizando assim uma de suas funções mais sofisticadas: a de gerar a confusão que, no fim das contas, nos redime e ensina.
A polêmica que envolve a verdadeira cor da carapuça de Exu, o andarilho, destrói a pretensão dos sábios em relação ao domínio da verdade. Ela expõe ainda a sofisticada e ancestral visão de Ifá — o corpo literário com os poemas iorubás da criação — sobre versão dos fatos, questionamento da verdade histórica e disputa pela narrativa; temas tão presentes nestes tempos em que todos parecem dispostos a matar e morrer por crenças e certezas.
A respeito desses babados, li boas reflexões de gente citando Nietzsche, Derrida, Foucault etc. Quero, com este texto modesto, contribuir de mansinho, na quebrada dos tempos, citando a minha maior referência no campo da teoria da História. Já que sou adepto da epistemologia da macumba e tenho por hábito olhar o mundo a partir das encruzilhadas, revelo: Elegbara, mais conhecido como Exu, é o meu teórico do conhecimento predileto.
O fato é que o compadre — um craque nas questões que coloca em suas aventuras — já tinha exposto antes dos alemães e dos franceses esse problema da verdade dos fatos com grande competência.
Fica a dica para tempos difíceis e intolerantes: escutem a lição de Exu e ensaiem outras miradas antes de arrotar sentenças, matar ou morrer por causa de alguma verdade indiscutível. E dancemos enquanto os atabaques tocam.







http://odia.ig.com.br/diversao/2015-06-20/luiz-antonio-simas-os-donos-da-verdade.html

quinta-feira, setembro 25, 2014

Arteterapia no parque




AARJ convida para

ARTETERAPIA NO PARQUE
Celebrando a primavera com arte no MUSEU DA REPÚBLICA

Entrada Franca

Dia 4 OUT – Sábado
Das 9:30h às 16:30h

Oficinas de arteterapia com artes plásticas, origami, poesia, fotografia e contação de histórias no parque das 9:30h às 16:30h.
Palestras sobre arteterapia das 14h às 16:30h no auditório

Local: Museu da República. Rua do Catete 153, Catete, Rio de Janeiro, RJ

Realização: AARJ – Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro
Apoio: Museu da República
___________________________________________________________

PALESTRAS – 14h às 16:30h - Auditório

ABERTURA AARJ - Ligia Diniz
OS MATERIAIS E A ARTE EM TERAPIA - Eveline Carrano
HISTÓRIAS DE QUEM OUVE HISTÓRIAS - Ana Baptista
ARTETERAPIA: REDUZINDO O ESTRESSE E AMPLIANDO O BEM ESTAR - Angela Philipini

CALDEIRÃO DE HISTÓRIAS – próximo ao Chafariz dos Leões - 9:30h às 16:30h 
9:30h – ABERTURA DO CALDEIRÃO DE HISTÓRIAS com Ligia Diniz e Maria Elaine Altoé
10h – HISTORIAS INFANTIS – Maria Elaine Altoe
11h – CONTOS INDIGENAS – Silvia Rocha
12h – HISTÓRIAS DO MUSEU – Vânia Soares de Magalhães
13h – ATELIÊ EVELINE CARRANO - Candida
14h – POESIA – Mário Chagas
15h – HISTORIA DA TRADIÇÃO SUFI - Rute Casoy
16h – CONTOS AFRICANOS - Eliana Ribeiro 

OFICINAS - CORETO - 9:30h às 16h
9:30h – RETALHINHO NO JARDIM DO MUSEU – Equipe Incorporar-te - Ana Luisa Baptista e Carolina Nani e Equipe Incorporar-te: Espaço Terapêutico Corpo Artes
11h – TOQUE, SINTA E CRIE – Naila Brasil e Eunice Gonçalves
13h – MY PIC – Fotografia - Claudia Brasil Ateliê
15h – ARTETERAPIA E PROCESSOS CRIATIVOS – UVA – Rodolfo Berg, Damaris Novo e Elisabeth Mello

OFICINAS - PARQUE – Próximo ao Parquinho - 11h às 16:30h
11h – PRIMAVERA: UM JARDIM SECRETO COM DOBRAS DURAS E DOBRAS MOLES - Equipe Caminhos do Self
15:30h – ENCANTANDO A PRIMAVERA COM POESIAS CRIATIVAS E ARTE - Eveline Carrano

OFICINAS - PARQUE - Próximo as Esculturas de Terracota - 9:30h às 16h
9:30h - COR,CRIATIVIDADE E ARTE – Luciana Machado e Cristiane Matias
11h – DANDO FORMA ÀS EMOÇÕES – Henriqueta Sasso
13h – GIRA, GIRA GIRASSOL – Arteterapia Ligia Diniz – Fernanda Souza e Monica Vasconcelos
15h – DANÇANDO NO PARQUE – Denise Nagem

quinta-feira, outubro 11, 2012

Salve Erê !


Vi esta imagem no Facebook e lembrei de uma história recontada por Reginaldo Prandi:



Aproveito, então, para pedir a proteção dos Sagrados Ibejis, para todas as crianças do planeta. Que sejam sempre nutridos e nutridas de Pão e de Beleza.
Salve Erê !

quinta-feira, novembro 11, 2010

Arte, cultura e identidade - a obra de arte também conta histórias

Doc 12 min - Brasil 2002
de Mário Vieira da Silva 

Na peça em madeira, que cuidadosamente vai sendo entalhada pelo artista Jorge Rodrigues, pode-se perceber toda a História... e as histórias.
Aproveito para recomendar o excelente sítio: 
onde se encontram outros materiais bem interessantes.

Sobre o caráter sagrado do ofício do entalhador,  este mito yorubá fornece algumas informações
Iroco castiga a mãe que não lhe deu o filho prometido.

(*) Para acessar o vídeo e a história, clique nas frases em negrito.
  

terça-feira, novembro 02, 2010

Dia dos mortos, dia de histórias

Tabu em nossa sociedade moderna,  a Morte está presente nos contos tradicionais; não é de se estranhar pois, afinal, a Comadre faz parte da Vida. 
Hoje, ao cumprir a tradição familiar de visitar 'meus' mortos, pensei no quanto as histórias podem contribuir para uma outra visão deste grande rito de passagem.; o quanto  a ação de contá-las pode  fortalecer nossas crianças _ incluindo aí nossas crianças interiores _   para que ultrapassem o tabu que silencia sobre esta parte de existência. Estaríamos realizando, então, uma das funções primordiais das histórias _ preparar para os grandes momentos, as grandes transições da vida.

Então aqui estão dois livros com histórias sobre a Morte:


 De  Ricardo Azevedo, Contos de Enganar a Morte. Editora Ática. 2003

"Era uma vez a Morte. Ninguém queria saber dela e todo mundo só pensava em passar-lhe a perna, mandá-la para bem longe de suas vidas tão preciosas. O compadre bem que tentou ser mais esperto que ela; o ferreiro achou que podia fazê-la esperar para sempre. Mas com a Morte não tem conversa mole. Quando chega a hora, não adianta bater o pé. É o que mostram estas narrativas populares recolhidas e recontadas por Ricardo Azevedo. Cheias de humor e astúcia, estas histórias tratam a morte com naturalidade e são uma declaração apaixonada de amor à vida." Fonte: Editora Ática



De Márcia Széliga, Do céu ao céu voltarás. Cortez Editora, 2004.

"Os mistérios da vida e da eternidade, o grande enigma da morte e da vida no além. Não é possível construir nenhum sistema filosófico ou religioso que não se preocupe com estes temas, que tem despertado a imaginação e a curiosidade dos homens desde o início dos tempos. Nesta história surpreendente, Luzia, uma menina curiosa e cheia de porquês, empreende uma viagem junto com seu gato e uma coruja mágica, em busca do conhecimento sobre os mistérios da existência. Nesta grande aventura entram em contato com seres lendários de antigas tradições e crenças do mundo todo. Os mitos criam vida e conduzem o leitor a muitos questionamentos do começo ao fim, em um só fôlego, tratando do tema tão profundo com suavidade e de forma lúdica."  Fonte: Livraria Cultura




sábado, janeiro 09, 2010

Presente de Dia de Reis: Amor Índio






AMOR ÍNDIO A Paixão proibida de Conyra e Cuillac. Duração; 16 m. 1998 Grande Prêmio Cinema Brasil - 2001 Uma animação de Rui de Oliveira www.ruideoliveira.com.br

Imaginem os  Reis Magos levando histórias como presente para a Criança Divina... 
Feliz 2010 ! 

terça-feira, setembro 08, 2009

Histórias de árvores: uma contribuição para o repertório do XI Moitará de Histórias


Aqui está uma pequena contribuição para o repertório do XI Moitará: um site com várias histórias sobre árvores, arquivadas por regiões e por espécies. O site está em inglês, então o caminho das pedras é o seguinte:
1- Escolher uma região, ou espécie de árvore.
2- Clicar em uma história.
3- Passar em um tradutor (costumo utilizar o do google)
4- Como são contos tradicionais, a partir da tradução mecânica (obtida com o tradutor da web) já podem ser trabalhados do jeitinho do contador de histórias.

Deste site retirei este mito de criação Bosquímano.


sábado, junho 27, 2009

Inno Sorsy conta "The Hunter" , da tradição oral do Benin




Está é uma história sobre um caçador, chama-se a faca do chefe e ela vem do Benin.

Ele era muito quieto, obviamente, afinal, caçadores precisam ser quietos. Ele vivia numa pequena vila, acordava muito cedo todas as manhãs, ia para a floresta, caçava, voltava, salgava a carne, tudo ia bem.
Em uma vila grande vivia o chefe e uma dia ele decidiu dar uma grande festa e convidar todos das vilas circunvizinhas. Então, ele enviou todos os seus mensageiros que diziam:
- O chefe quer que todos sejam convidados para esta festa.Todos sejam bem vindos, todos podem vir.
No dia, todos vieram do Norte, Sul, Leste e Oeste.
O chefe tinha providenciado comida, bebida, música, diversão. Incrível. Fabuloso.
Antes dos convidados chegarem, o chefe colocou sua faca preciosa em um canto do telhado, só para guardá-la, era uma faca precisada, dada de presente a ele por seu tio, feita pelos melhores artesãos de Benin, o cabo era feita de resina, prata e ouro.Era um objeto muito bonito e ele amava esta faca. Ele não queria que nada acontecesse com ela. Por isso a guardou.
A festa estava ótima, todos dançando, todos cantando, todos comendo, todos dançando, todos se divertindo muito.
E quando a festa terminou, o chefe deu ele mesmo um presente para cada convidado. Todos estavam simplesmente delicados, alegres e foram embora cantando agradecimentos ao chefe.
Depois disso, o chefe foi pegar a faca. Mas ela simplesmente não estava lá. Ninguém conseguia encontrá-la. Os servos procuraram por todos os cantos, mas nada.
O chefe disse:
- Meus deus, um de meus convidados roubou minha faca! Minha faca especial. Como pode ser? Que ingrato! - e continou - bem, eu quero que este ladrão seja encontrado e eu o punirei com tortura e morte.
Os mensageiros se espalharam, foram para o Norte, Sul, Leste e Oeste, dizendo:
- Atenção, alguém roubou a faca do chefe. A faca do chefe precisa ser encontrada.
Todas as vilas escutaram isso. Diziam:
- Nossa, isto é terrível.
Os mensageiros foram à vila do caçador. Todos olharam para o caçador e disseram:
- Você, você precisa de facas para o seu trabalho, não precisa?
- Sim, eu tenho facas - o caçador respondeu - eu preciso de facas, teu tenho facas.
- Hum - os moradores diziam entre si - esta não é uma forma muito educada de responder, não é?
Então eles começaram a vigiá-lo. Quando ele saia muito cedo da manhã, eles diziam:
- Está vendo? Ele é culpado. Ele sequer diz "alô" para nós!
Quando ele retornava tarde da noite, voltavam a dizer:
- Está vendo? Ele não fala com ninguém! Ele deve ser o culpado!
E pouco a pouco, eles convenceram a si mesmo que aquele homem era culpado. Tudo que ele dizia ou fazia apontava para sua culpa. Eles se reuniram e começaram a discutir:
- Escutem, nós temos que ir até o chefe e dizer que nosso caçador é o ladrão.
- Não, nós devemos puni-lo nós mesmos - outro disse. Se formos diretamente ao chefe,ele vai pensar que a nossa vila é uma vila de ladrões.Vamos puni-lo nós mesmos!
E então, eles não compraram mais sua carne, ele se tornou cada vez mais pobre. E por conta da atmosfera, ela passava a maior parte de seu tempo na floresta, muito triste e dizia pra si mesmo.
- O que eu vou fazer? Minha vida está terminada.
Na vila, todos comentavam:
- Que desgraça é esse caçador para nossa vila! Como pudemos tê-lo entre nós?
Mas um dia, os mensageiros do rei foram enviados a todos os lugares para avisar:
- A faca do chefe foi encontrada.
Todos ficaram completamente satisfeitos! E quando eles viram o caçador, disseram:
- Veja como ele é? Quieto, não como algumas pessoas que falam o tempo todo. Não. Nosso caçador é um homem respeitável. Ele não fala muito.
Quando ele saía de manhã bem cedo, diziam:
- Veja que trabalhador ele é! Ele não passa seu tempo dormindo com algumas pessoas!
Quando ele voltava tarde da noite, diziam:
- Veja como ele é! Ele não deixa a floresta até que tenha conseguido alguma coisa. Temos muito orgulho dele. Ele é nosso caçador. Ele é um grande homem.
Diz-na na Nigéria que, quando a faca do chefe é roubada, o caçador é um ladrão. Mas quando a faca do chefe é encontrada, o caçador é agraciado.

Tradução de Keu Apoema.
Material recebido pelo wwwrodadehistorias@yahoogrupos.com.br

Fazendo justiça aos artistas:

Gente, ao receber o link do vídeo pelo Youtube, cometi a falta de omitir os devidos créditos ao documentário Histórias, dirigido por Paulo Siqueira, de onde foi retirado este trecho da Inno Sorsy. Este vídeos e outros mais, sobre narrativas e contadores de Histórias, poderão ser encontrados no Youtube, no Canal Cajuínas

Coloco, então, o recado carinhoso que recebi do Paulo, do Canal Cajuínas.

Oi Eliana, meu nome é Paulo Siqueira e sou o diretor do documentário "Histórias", de onde foi retirado esse trecho da Inno Sorsy. Legal que você tenha gostado do trabalho. Nós, eu e a Benita Prieto, estamos tentanto criar um canal de TV pela internet especializado em contadores e para os contadores. Mas nós precisamos da ajuda de todos vocês para que esse canal seja possível e gratuitamente. Portanto, peço que no seu post, que está muito legal, você cite a fonte- o documentário "Histórias", assim como o canal cajuínas no youtube, e se possível, nos ajude a divulgar o canal que nós estamos criando e será lançado no simpósio mundial de contadres de histórias, que ocorrerá no Rio de Janeiro, agora em agosto. Se você quiser acompanhar o canal, no momento pode ser pelo meu blog: cajuinas.blogspot.com. Assim que lançarmos eu avisarei lá e colocaremos os blogs e twitters referentes.Abs e obrigado pela força,Paulo .

Paulo, peço desculpas pela ausência dos créditos e desde já coloco o blog do !Ponto à disposição para divulgação da iniciativa.

Já coloquei um link para o blog na barra lateral.


sábado, fevereiro 28, 2009

Antes do Rio de Janeiro

IMAGEM DISPONÍVEL EM: http://farm4.static.flickr.com/3291/2677781417_a2d4aa002d.jpg?v=0



A Pedra da Onça

(Conto tradicional da Ilha do Governador)

Aconteceu no começo do fim do Tempo, quando as grandes canoas, trazendo homens estranhos, navegavam nas águas de Ganabará. Na ilha de Paranapuã, a maior das ilhas banhadas pelas águas de Ganabará, viviam os Temiminós, chefiados pelo bravo Maracajá-Guaçu.

Antes da chegada das grandes canoas, havia trégua entre Temiminós e Tamoios. As águas de Ganabará ofereciam o bom peixe; a mata florescia, o amor florescia. As ondas suaves de Ganabará banharam a primeira noite de amor de um casal temiminó; ele, um jovem caçador e ela, uma bela jovem, cujo corpo tinha o perfume da flor do maracujá. Junto aos dois, um inseparável gato maracajá.

O gato maracajá, que acompanhava a jovem desde que era um filhote, afeiçoara-se ao caçador. Após a união dos dois, dividia o seu tempo: às vezes acompanhava o homem na caça , às vezes permanecia junto à mulher enquanto esta trançava cestos. A mata florescia...O amor florescia... A amizade do gato maracajá pelo casal florescia...

Mas era o começo do fim do Tempo. As grandes canoas navegavam nas águas de Ganabará. Os homens estranhos que delas saíram, começaram a guerrear entre si. A guerra acabou com trégua entre Tamoios e Temiminós...

O bravo caçador partiu da ilha de Paranapuã para guerrear contra os Tamoios e, em uma batalha, foi ferido mortalmente. As águas de Ganabará tingiram-se de vermelho e cobriram seu corpo.

Na ilha , em cima de uma pedra, a jovem e o gato maracajá esperavam pelo retorno do caçador. Do alto da pedra viram passar as quatro fases da lua . A jovem percebeu que seu homem não voltaria mais. Jogou-se nas águas de Ganabará, que cobriram seu corpo como um manto, como haviam feito com seu amado..

Em Paranapuã, o gato maracajá permaneceu no alto da pedra, esperando em vão que as águas devolvessem seus amigos. Tupã, comovido, transformou o gato maracajá em pedra, para que ele pudesse esperar a chegada de um novo Tempo.

A ilha de Paranapuã , que acolhia a todos, foi dada, como propriedade a um homem estranho, vindo nas grandes canoas; passou a chamar-se ILHA DO GOVERNADOR. Mas o gato maracajá permanece no alto da pedra, para lembrar a todos de PARANAPUÃ que houve um tempo em que as águas de Ganabará ofereciam o bom peixe...Que a mata florescia... Que o amor florescia... E QUE ESSE TEMPO HÁ DE VOLTAR.

Recontada por ELIANA RIBEIRO


OU NA VERSÃO TRADICIONAL


"Conta a lenda que uma índia da tribo ali localizada ia todos os dias, no fim da tarde, até a praia, com seu gato maracajá que criava desde filhote e lá ficava a mergulhar da pedra durante horas. Um dia, porém, a jovem índia mergulhou e não mais voltou, ficando o gato a esperá-la, olhando para o mar até não mais agüentar e morrer de fome, apesar da tentativa dos índios em retirá-lo do local.




Essa lenda, não confirmada pelos historiadores, inspirou um grupo de moradores, na década de 1920, a erguer o monumento em homenagem à fidelidade do animal. O artista plástico Guttman Bicho projetou e esculpiu o maracajá,. Em 1965 a estátua original, já bem castigada pelo tempo, foi substituída por outra que lá está até hoje.

Verdade ou não, a lenda atravessou os tempos contada pelos moradores do local e a Pedra da Onça é um lugar mágico onde qualquer pessoa sente um impulso irresistível de sentar numa pedra e ficar observando o mar, como quem espera ver a jovem índia emergir das águas e assim acalmar o espírito do fiel gato maracajá que, com certeza, ainda ronda o local esperando sua dona voltar."

VERSÃO DISPONÍVEL NO SITE DO ROTARY RJ - ILHA DO GOVERNADOR



Em uma das possíveis datas de aniversário da Muy Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro _ região que já foi habitada pelos bravos Tamoios, depois fundada à européia pelos franceses e conquistada pelos portugueses _ quero deixar fluir minha memória carioca. Este gato maracajá, em cima da pedra faz parte da memória de todo insulano e de toda insulana. Desde crianças, nós habitantes de Paranapuã, oficialmente chamada Ilha do Govenador, sabemos que o gato está à espera de sua companheira.

No aniversário da Cidade do Rio de Janeiro, desejo ver a baía da Guanabara, testemunha de nossa história, com suas águas novamente límpidas, fornecendo o bom peixe e banhando o povo carioca.

Um grande abraço para todos nós, que amamos esta cidade !




segunda-feira, janeiro 12, 2009

Um conto palestino: Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros.

IMAGEM: CRIANÇA PALESTINENSE PINTANDO DURANTE UM EVENTO CULTURAL ORGANIZADO EM BETHLEHEM, JANEIRO DE 2008.
FOTO: HAYTHAN OTHMAN, MAAN IMAGES
DISPONÍVEL EM : http://annies-letters.blogsppot.com



Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros

Era uma vez, um mercador que tinha três filhas. Duas eram de uma mãe enquanto a terceira era de uma mãe diferente. Ela era a mais jovem e muito bonita. O pai , que a amava muito , lhe deu o nome de Sitt il- Husun.


Um dia, desejando fazer a peregrinação à Meca, o pai perguntou às suas filhas o que cada uma desejava: “ Digam algo que eu possa trazer comigo” disse ele.


“Eu quero uma pulseira de ouro” anunciou a mais velha. “E eu quero um vestido bordado, feito da mais cara seda” disse a segunda. “E quanto a mim, pai” ,disse Sitt il-Hussun, “ Eu quero Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros. E se você não o trouxer, que seus camelos fiquem paralizados em Aqaba, e não consigam se mover!”


O pai completou a peregrinação e retornou. No caminho de volta, seu camelos paralizaram em Aqaba, e ele lembrou “Ah, sim! Por Allah, Esqueci de trazer Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros.” Retornando à Meca, ele circulou pela cidade perguntando sobre Jummez Bin Yazur, o Chefe dos Pássaros. Finalmente, encontrou um velho sheik, que lhe deu instruções como chegar à casa de Yazur. “ Fique diante da porta” disse o ancião, “ e grite três vezes ‘Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros, minha filha pediu por você!’ "


O pai caminhou, caminhou, até que chegou a casa descrita pelo sheik. Era um dia de muito calor e ele estava sedento; vendo uma jarra de água à porta, ele estendeu a mão para beber, mas ouviu: “Tire a mão daí ! “ disse a jarra. “ Possa ela ser cortada! Atreve-se a beber da casa de seu Mestre?”. O pobre homem ficou muito assustado. Recuou e gritou três vezes: “ Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros ! Minha filha pediu por você!” e foi direto para casa.


Três noites após o retorno do mercador, um pássaro bateu as asas contra a janela de Sitt il-Hussun. Ela levantou-se e abriu a janela, a ave entrou e, vibrando suas asas, tornou-se um belíssimo jovem... A partir de então, o jovem passou todas as noites com ela e, ao amanhecer, transformava-se em pássaro, voando para longe e deixando uma bolsa cheia de ouro sob o travesseiro.


As duas irmãs descobriram e foram tomadas por ciúmes. Um dia, a irmã mais velha disse “ Pergunte a Jummez o que há de mais precioso no lugar de onde ele vem.” Sitt il-Hussun, ao anoitecer, perguntou inocentemente ao Chefe dos Pássaros “ O que causa lhe mais dano em seu ambiente natural?”


“ Porquê? Que queres?” ele perguntou.


“Porque eu só quero saber” respondeu ela. E ficou insistindo até que ele disse que o que lhe causava mais danos era o vidro. Se um caco de vidro o cortasse, ele jamais seria capaz de se recuperar.


Quando Sitt il-Hussun contou para suas irmãs, estas sem serem vistas, quebraram o vidro da janela pela qual Jummez passava todo o anoitecer e, quando ele chegou , foi ferido pelos cacos de vidro.


Sitt il-Hussun esperou um dia e depois dois, uma semana e depois duas e, quando seu amado não voltou, ela percebeu que havia sido enganada por suas irmãs e que Jummez, então, estava doente. Disfarçou-se de mendiga e começou a procurar seu amado. Um dia, quando estava sentada sob uma árvore, ouviu a conversa de duas rolinhas.


“Veja irmã, a esposa de Jummez quis matá-lo.” disse uma delas. ‘ Se ao menos alguém soubesse que se misturasse o sangue e as penas de uma pomba e, em seguida, massageasse a mistura nas pernas de Jummez, ele ficaria bom de novo...” Disse a outra.


Sitt il-Hussun ergueu-se. Ela abateu uma pomba , tirou o sangue do animal e queimou suas penas. Misturando tudo, ela criou um bálsamo que carregou consigo pela cidade enquanto clamava: “ Eu sou o médico com a cura !”


Um dia ela passou em frente a uma certa casa e ouviu através da janela, meninas chorando. Quando elas a viram, chamaram-na dizendo que seu irmão estava muito doente e que ninguém havia sido capaz de curá-lo. Sitt il-Hussun entrou e friccionou o remédio em suas feridas, ficou com ele por duas semanas até que ele acordou. Quando ele abriu os olhos, logo a reconheceu.


Oh Sitt il- Hussun! Oh Sitt il-Hussun!” ele gritou “Você me fez uma grande injustiça!”


“Não fui eu ! Minhas irmãs fizeram isto com você.” ela respondeu.


“Isto não importa mais. Não se preocupe.” disse ele.


Quando as irmãs de Jummez descobriram que ela era a namorada do irmão e que ele queria se casar com ela, disseram: “Você não poderá casar com o nosso irmão enquanto não varrer e esfregar toda esta cidade.”


Sitt il-Hussun começou a chorar, mas Jummez disse, “Vá ao topo da monha e grite ‘Vocês aí, varram ! Vocês aí, esfreguem !’” Ela assim o fez e toda a cidade foi varrida e esfregada.


Vendo que ela havia completado a tarefa, as irmãs de Jummez disseram “ Você não se casará com nosso irmão até que traga penas suficientes para encher dez colchões para o casamento”. Ela, chorando, foi até Jummez, e ele disse “Não tenha medo. Vá ao topo da montanha e repita três vezes, ‘Jummez, Bin Yazur, Chefe dos Pássaros, está morto!’”. Voltando ao topo da montanha, ela repetiu três vezes “Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros, está morto!”. Tão logo disse, todas as aves se recolheram e começaram a gemer e se lamentar, arrancando as próprias penas. Logo, havia montes e montes de penas sobre o terreno.


Reunindo as penas, ela levou-as para as irmãs de Jummez, mas elas disseram “Você não pode se casar com nosso irmão até que traga a tapeçaria pendurada na parede da casa do Ogro.


Mais uma vez, Sitt il-Hussun foi chorar junto a Jummez. “Não chore” ,ele confortou-a. “Esta tarefa é fácil ! Vá à casa do Ogro, lá você encontrará carne em frente aos cavalos e cevada em frente aos leões. Troque de lugar a carne e a cevada. Você também encontrará, desabado, o terraço de pedra da casa da Ogra. Conserte-o e, então, entre na casa e pegue a tapeçaria. Mas cuidado ! Se ela roçar na parede, a Ogra despertará.”


Sitt il-Hussun foi para a casa da Ogra e fez tudo conforme Jummez havia dito. Mas quando foi pegar a tapeçaria, ela viu o Ogro dormindo e tremeu de medo. Como estava puxando a tapeçaria, esta raspou contra a parede, provocando um barulho imenso, que acordou o Ogro. Sitt il-Hussun saiu correndo com a tapearia, sendo perseguida pelo Ogro.


“Parede do terraço, capture-a !” rugiu o Ogro."


“Por vinte anos tenho estado desmoronada e ela consertou-me” , disse a parede. “Não vou fazer isso.”


Cavalos, peguem-na!” ordenou o Ogro."


“Por vinte anos não provamos cevada e ela alimentou-nos. Não!”


“Leões, peguem-na !”


“Por vinte anos não temos provado carne, e ela alimentou-nos. Não, não vamos!”


Assim, o Ogro não foi capaz de capturar Sitt il-Hussun e ela levou a tapeçaria e apresentou-a ás irmãs de Jummez. Quando estas verificaram o cumprimento da tarefa, consentiram no casamento.


Houve uma grande celebração e, após a cerimônia de casamento. Jummez Bin Yuzur, Chefe dos Pássaros, levantou Sitt il-Hussun em seus braços e voou com ela para longe.


O PÁSSARO VOOU, E UMA BOA NOITE A TODOS !



(*) Livre tradução, feita por mim, a partir de:

Muhawi, Ibrahim, and Sharif Kanaana. Speak, Bird, Speak Again: Palestinian Arab Folktales. Berkeley: University of California Press, c1989 1989.


Comentário:

O conto acima faz parte de uma coletânea da literatura oral palestinense. As narradoras tradicionais dos mesmos são, fundamentalmente, mulheres idosas.

Tive como objetivo mostrar quanta riqueza existe naquela região. Busquei imagens de crianças palestinenses mas, para minha tristeza, a quase totalidade delas eram de crianças mortas, feridas ou com armas nas mãos.

A imagem que ilustra esta postagem é datada de 16 de janeiro de 2008
(data da postagem no blog citado no crédito). Rezo para a divindade de todos os nomes para que este menino, cercado de cores, ainda esteja vivo !

Não farei um minuto de silêncio pelas crianças de ambos os lados deste massacre insano! Contarei histórias !





domingo, agosto 03, 2008

O Griot e a Kora







Neste vídeo, o griot Toumani Diabaté, apresenta um belíssimo solo de kora ( o som deste instrumento me encanta); nele se encontram imagens sobre o processo artesanal de fabricação de uma kora. Aproveitei, então, para valorizar esta postagem com um mito bambara, recontado pelo Prof. Dr. Marcos Ferreira Santos.

Desfrutem !


A kora dos griots


Os jeliya ou griots (em especial na Gâmbia e Senegal – tradições Bambara, Senufo e Mali que dialogam com as tradições Bantu e Dahomey), sempre procuram uma árvore para, aos seus pés ou na sua copa, cantar. Sabem bem que a árvore é uma mãe, uma amante e sábia que lhes reforça o cantar.

Um de seus principais instrumentos é a kora – ancestral da harpa ocidental ou da lira grega, possui 21 cordas feitas com linha de pesca e utiliza uma grande cabaça como caixa de ressonância, cuja forma se assemelha à barriga de uma mulher grávida. Pode ter um ou dois braços onde as cordas são estiradas e afinadas (com estrutura semelhante ao nosso berimbau, embora, no caso do berimbau, a cabaça seja bem menor).

Um mito nos diz da origem da kora: um caçador e seu cão procuravam algo para comer no meio da floresta quando se deparam com uma grande árvore. Forte, alta e de tronco muito largo. E ao pé da árvore estava recostado um estranho instrumento. Tinha uma grande cabaça com várias cordas estiradas sobre ela e de onde saía uma doce melodia que lhes prenderam a atenção.

O caçador, com receio, vai se aproximando do estranho instrumento paraouvir-lhe melhor os sons quando se aproxima um velho espírito disfarçado em homem. O caçador lhe pergunta:
“Bom dia nobre senhor! Acaso sabes de quem é este estranho instrumento?
Acaso sabes o que é?”

O espírito disfarçado de homem lhe responde com naturalidade:
“Bom dia caçador! Sim sei... é uma kora e é minha! Queres ver como se
toca a kora ?

Entusiasmado, o caçador concorda e então, o estranho espírito disfarçado de homem tocou a kora com muita delicadeza e seu som penetrou no coração do jovem caçador que foi aprendendo como tocar aquele belo instrumento. Ao final da tarde, já tendo experimentado como tocar a kora, o espírito disfarçado de homem levantou-se e disse ao caçador:
“Leve para casa, toque-a e eu te mostrarei muito mais!”.


Mas, logo em seguida colocou uma condição para que o estranho homem seguisse lhe ensinando (o caçador não sabia se tratar de um espírito): eledeveria tocar durante o dia para a sua aldeia, mas, à noite ele seria visitado por um espírito em seus sonhos.

O caçador voltou à aldeia e tocou para a sua gente que ficou fascinada com a beleza das melodias que cantavam as façanhas dos ancestrais numa
“linguagem cheia de imagens e flores”. Sempre que chegavam visitantes e
estrangeiros para conhecer o lugarejo, o cantor (que já não caçava mais...) entoava suas canções com o magnífico instrumento.

O caçador não se esquecia do homem que encontrara no meio do caminho (ele não sabia que se tratava de um espírito) e à noite, em seus sonhos mais profundos, o homem lhe mostrava lugares nunca vistos, falava com os ancestrais que lhe contavam muitas histórias, aprendia a compor novas e velhas melodias e aprendia a construir outras kora.

Quando, numa certa noite, o estranho homem contou-lhe que, na origem dos dias, o espírito das coisas fez-se homem e se pôs a falar numa linguagem muito estranha, “cheia de imagens e de flores”. As pessoas da aldeia daquele homem não compreenderam aquela linguagem estranha e, considerado como louco, foi atirado ao mar. Foi, então que, um peixe devorou o homem.

Mais tarde, um jovem pescador conseguiu pescar aquele peixe que havido devorado o homem. Assou-o e o comeu satisfeito. Mas, com o passar do tempo o jovem pescador começou a falar numa linguagem misteriosa que ninguém, em sua vila, compreendia. As pessoas o apedrejaram e foi enterrado bem fundo na terra.

Com o passar dos anos, o vento que vinha do deserto foi descobrindo a cova em que o pescador foi enterrado e alguns restos de seu corpo foram parar no cuscuz (“kous-kous”) de um caçador. Logo em seguida, aquele caçador desavisado começou a narrar coisas desconhecidas de sua tribo, sem saber de onde vinham aquelas palavras estranhas cheias de imagens e flores de velhos tempos. Sua tribo, por achar perigoso o comportamento estranho daquele caçador, o exterminou reduzindo a pó o seu corpo e, sem perceber o erro, lançou o pó ao vento.

Foi quando um homem que tocava sua kora na floresta, afinando as cordas sobre a maravilhosa cabaça e extraindo as mais belas harmonias com seu instrumento, foi surpreendido por uma rajada empoeirada de vento e respirou os pequenos grãos de poeira que sobraram do corpo do caçador. Em seguida, o homem começou a cantar e a se acompanhar com a kora; e as canções e histórias, que saiam de seus lábios, cheias de imagens e flores, fizeram com que todos de sua aldeia, que o ouvissem, se pusessem a chorar: alguns de tristeza, outros de alegria, outros com intensa saudade. E todos, sem saber, ao certo, a razão disso. Por isso, deixaram-no viver. Pois é dessa forma que nasceu o griot.

Assim, o jeliya ou griot pode criar e, ao mesmo tempo, ser fiel à tradição. Grávido e orgulhoso de sua ancestralidade aprende na noite de seu espírito, dedilha memórias e canta nascentes.


Mito bambara adaptado pelo prof. dr. MARCOS FERREIRA SANTOS
(linguagem de imagens e flores é citação de S. Spina,
‘A lírica trovadoresca, EDUSP, 1996)


terça-feira, outubro 02, 2007

Por que o Sol e a Lua vivem no céu - um conto nigeriano


Tempos atrás, o Sol e a Água viviam na terra e eram grandes amigos. O Sol visitava a Água frequentemente, mas a Água nunca retornava as visitas.

Um dia, o Sol perguntou à Água por que ela nunca o visitava. A Água respondeu que a casa do Sol não era grande o suficiente e, se todo o povo da água fosse vistá-lo, acabaria por tirá-lo de lá. Disse ao amigo: "Se você quer a minha visita, deve construir um enorme cômodo mas, aviso, deve ser muito, muito grande, pois meu povo é muito numeroso e precisa e muitas acomodações".


O Sol prometeu construir um enorme cercado e, em seguida, foi encontrar sua mulher, a Lua,que o recebeu com um largo sorriso assim que ele abriu a porta. O Sol contou, então, o que havia prometido à Água. No dia seguinte, começou a construção de um grande cercado, no qual receberia sua amiga. Ao final da construção, convidou a Água e todo o seu povo para ir visitá-lo.

Quando a Água chegou, chamou pelo Sol e perguntou se estava seguro para sua entrada. O Sol respondeu: "Sim minha amiga, entre". A Água, então, começou a fluir, acompanhada pelos peixes e todos os animais aquáticos...

Logo, a Água estava na altura dos joelhos. Perguntou ao Sol se permanecia seguro e o ele respondeu mais uma vez: "Sim!" Então, mais água entrou... Quando estava na altura do topo da cabeça de um homem, ela tornou a perguntar ao Sol: "Você quer a visita de mais do meu povo?" O Sol e a Lua responderam "Sim!"

Então Água entrou, enquanto o Sol e a Lua tiveram que subir no topo do telhado. Mais uma vez a Água consultou o Sol e recebeu a mesma resposta...e mais do seu povo entrou enchendo até o topo do telhado.

O SOL E A LUA FORAM FORÇADOS A SUBIR ATÉ O CÉU, ONDE PERMANECEM ATÉ HOJE.


TEXTO EM INGLÊS DISPONÍVEL EM: http://www.sacred-texts.com/
LIVRE TRADUÇAÕ: ELIANA RIBEIRO
IMAGEM: PETIS AMIS DU CIEL , Vally Saunier

terça-feira, setembro 11, 2007

Mito de Criação !Kung (Bosquímano)


A humanidade nem sempre viveu sobre a Terra. No princípio, pessoas e animais viviam sob a superfície com KAANG, o Grande Mestre e Senhor de Toda a Vida. Neste lugar, pessoas e animais se comunicavam e viviam pacificamente. Havia sempre luz, embora ainda não houvesse nenhum sol. Durante esse tempo de bem aventurança, Kaang começou a planejar as maravilhas que colocaria no Mundo acima.

Primeiro Kaang criou uma árvore magnífica, com ramos que se espalhavam por toda parte. Na base da árvore, cavou um buraco até o mundo subterrâneo onde viviam as pessoas e os animais.Depois de criar o mundo segundo seu desejo, ele tirou de dentro do buraco o primeiro homem e, pouco depois, a primeira mulher. Logo, toda a humanidade atravessou do interior para a superfíce da terra, reunindo-se aos pés da árvore, ao mesmo tempo maravilhados e assustados com o novo mundo.Em seguida, Kaang ajudou aos animais na escalada para fora do buraco.Kaang reuniu humanos e animais e os instruiu para que vivessem juntos pacificamente.

Então virou-se para os homens e as mulheres e alertou-os para que nunca fizessem fogueiras ou um grande mal cairia sobre eles. Homens e mulheres empenharam sua palavra a Kaang e o Senhor de Toda a Vida retirou-se para um lugar de onde pudesse observar secretamente o seu mundo.

A noite se aproximava e o sol começava se esconder no horizonte. Humanos e animais assistiam ao fenômeno mas, quando o sol desapareceu, o medo se instalou no coração dos humanos. Eles não eram capazer de ver-se, pois lhes faltava os olhos dos animais capazes de enxergar à noite, lhes faltava, também, o quente pelo dos animais e, então, o frio se instalou.

Em desespero, um homem sugeriu que fosse feita uma fogueira para aquecê-los. Esquecendo-se do alerta de Kaang, eles desobedeceram ao Grande Mestre. Com a fogueira acesa, homens e mulheres puderam se aquecer e ver-se uns aos outros na escuridão.

Entretanto, o fogo assustou os animais, que se retiraram para cavernas e montanhas e, desde que a humanidade rompeu com os mandamentos de Kaang, humanos e animais não foram mais capazes de se comunicar. Agora, o medo tomou o lugar da amizade que havia entre os dois grupos.


O texto, em inglês, encontra-se disponível em: http://www.cs.williams.edu/~lindsay/myths/myths_14.html. Com certeza, este é um caso de "quem conta um conto acrescenta um ponto". Contudo, os grandes temas de um mito de criação estão presentes: uma era dourada de comunhão, a árvore como eixo do mundo, o violação de um tabu... Esses temas não são privilégio do mito hebraico/cristão.


(*) LIVRE TRADUÇÃO -ELIANA RIBEIRO
IMAGEM: ARBRE DE VIE , Vally Saunier

sábado, abril 07, 2007

Uma história do Ifá (tradição Yoruba)

Ilustração de Pedro Rafael para o livro OXUMARÊ, O ARCO-ÍRIS, de Reginaldo Prandi.
"Ifá conhece todas as histórias que num passado remoto foram vividas pelos deuses e pelos homens, pelos animais, pelas plantas e por tudo mais que tem vida.
O Adivinho sabe todas as histórias que ainda vão acontecer, seja neste mundo em que vivemos ou em outro.
As histórias que estão acontecendo e as que vão acontecer são as mesmas já acontecidas um dia.
Assim acreditam os africanos iorubás.
Para eles tudo na vida se repete, nada é novidade.
Quando se conhecem as histórias do passado é bem fácil adivinhar o presente e o futuro.
Para isso basta saber qual, entre tantas histórias do passado é aquela que estamos revivendo."
PRANDI, Reginaldo. OXUMARÊ, O ARCO ÍRIS. Cia das Letrinhas
“Em épocas remotas os deuses passaram fome.
Às vezes por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra.
Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas.
Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens?
Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome.
Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes.
Um dia Exu pegou a estrada e foi em busca de solução.
Exu foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens, Iemanjá lhe disse:
‘Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com
doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios.’
Iemanjá disse:
’Exu matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer.
Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocuparam com ele.
Então é melhor que procures solução noutra direção
Os homens não têm medo de morrer.
Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que para tanto, desejem continuar vivos’.
Exu retomou o seu caminho e foi procurar Orungã.
Orungã disse:
‘Eu sei por que vieste. Os deuses têm fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça.. Eu conheço algo que pode fazer isso. Ë uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê.
Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás reconquistar os homens’.
Exu foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos.
Exu pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos então lhe disseram:
‘Exu, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira ?
Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira.
Em cada um desses lugares recolherás dezesseis odus.
Recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos.
Cada história tem sua sabedoria, conselhos que podem ajudar os homens
Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde vivem os deuses.
Ensina aos homens o que terás aprendido
E os homens irão cuidar de Exu de novo”.
Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao Orum, morada dos orixás.
Exu mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram:
“Isso é muito bom”.
Os deuses ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens.
Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir.
Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro.
Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos orixás para afastar os males que os ameaçavam.
Eles começavam a sacrificar animais e cozinhar suas carnes para os deuses.
Os orixás estavam satisfeitos e felizes.
Foi assim que Exu trouxe aos homens o oráculo de Ifá.
[1]

[1] PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Páginas 78 /82