"QUE A ÁGUA SEJA REFRESCANTE. QUE O CAMINHO SEJA SUAVE. QUE A CASA SEJA HOSPITALEIRA. QUE O MENSAGEIRO CONDUZA EM PAZ NOSSA PALAVRA."
Benção Yoruba

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Um conto palestino: Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros.

IMAGEM: CRIANÇA PALESTINENSE PINTANDO DURANTE UM EVENTO CULTURAL ORGANIZADO EM BETHLEHEM, JANEIRO DE 2008.
FOTO: HAYTHAN OTHMAN, MAAN IMAGES
DISPONÍVEL EM : http://annies-letters.blogsppot.com



Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros

Era uma vez, um mercador que tinha três filhas. Duas eram de uma mãe enquanto a terceira era de uma mãe diferente. Ela era a mais jovem e muito bonita. O pai , que a amava muito , lhe deu o nome de Sitt il- Husun.


Um dia, desejando fazer a peregrinação à Meca, o pai perguntou às suas filhas o que cada uma desejava: “ Digam algo que eu possa trazer comigo” disse ele.


“Eu quero uma pulseira de ouro” anunciou a mais velha. “E eu quero um vestido bordado, feito da mais cara seda” disse a segunda. “E quanto a mim, pai” ,disse Sitt il-Hussun, “ Eu quero Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros. E se você não o trouxer, que seus camelos fiquem paralizados em Aqaba, e não consigam se mover!”


O pai completou a peregrinação e retornou. No caminho de volta, seu camelos paralizaram em Aqaba, e ele lembrou “Ah, sim! Por Allah, Esqueci de trazer Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros.” Retornando à Meca, ele circulou pela cidade perguntando sobre Jummez Bin Yazur, o Chefe dos Pássaros. Finalmente, encontrou um velho sheik, que lhe deu instruções como chegar à casa de Yazur. “ Fique diante da porta” disse o ancião, “ e grite três vezes ‘Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros, minha filha pediu por você!’ "


O pai caminhou, caminhou, até que chegou a casa descrita pelo sheik. Era um dia de muito calor e ele estava sedento; vendo uma jarra de água à porta, ele estendeu a mão para beber, mas ouviu: “Tire a mão daí ! “ disse a jarra. “ Possa ela ser cortada! Atreve-se a beber da casa de seu Mestre?”. O pobre homem ficou muito assustado. Recuou e gritou três vezes: “ Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros ! Minha filha pediu por você!” e foi direto para casa.


Três noites após o retorno do mercador, um pássaro bateu as asas contra a janela de Sitt il-Hussun. Ela levantou-se e abriu a janela, a ave entrou e, vibrando suas asas, tornou-se um belíssimo jovem... A partir de então, o jovem passou todas as noites com ela e, ao amanhecer, transformava-se em pássaro, voando para longe e deixando uma bolsa cheia de ouro sob o travesseiro.


As duas irmãs descobriram e foram tomadas por ciúmes. Um dia, a irmã mais velha disse “ Pergunte a Jummez o que há de mais precioso no lugar de onde ele vem.” Sitt il-Hussun, ao anoitecer, perguntou inocentemente ao Chefe dos Pássaros “ O que causa lhe mais dano em seu ambiente natural?”


“ Porquê? Que queres?” ele perguntou.


“Porque eu só quero saber” respondeu ela. E ficou insistindo até que ele disse que o que lhe causava mais danos era o vidro. Se um caco de vidro o cortasse, ele jamais seria capaz de se recuperar.


Quando Sitt il-Hussun contou para suas irmãs, estas sem serem vistas, quebraram o vidro da janela pela qual Jummez passava todo o anoitecer e, quando ele chegou , foi ferido pelos cacos de vidro.


Sitt il-Hussun esperou um dia e depois dois, uma semana e depois duas e, quando seu amado não voltou, ela percebeu que havia sido enganada por suas irmãs e que Jummez, então, estava doente. Disfarçou-se de mendiga e começou a procurar seu amado. Um dia, quando estava sentada sob uma árvore, ouviu a conversa de duas rolinhas.


“Veja irmã, a esposa de Jummez quis matá-lo.” disse uma delas. ‘ Se ao menos alguém soubesse que se misturasse o sangue e as penas de uma pomba e, em seguida, massageasse a mistura nas pernas de Jummez, ele ficaria bom de novo...” Disse a outra.


Sitt il-Hussun ergueu-se. Ela abateu uma pomba , tirou o sangue do animal e queimou suas penas. Misturando tudo, ela criou um bálsamo que carregou consigo pela cidade enquanto clamava: “ Eu sou o médico com a cura !”


Um dia ela passou em frente a uma certa casa e ouviu através da janela, meninas chorando. Quando elas a viram, chamaram-na dizendo que seu irmão estava muito doente e que ninguém havia sido capaz de curá-lo. Sitt il-Hussun entrou e friccionou o remédio em suas feridas, ficou com ele por duas semanas até que ele acordou. Quando ele abriu os olhos, logo a reconheceu.


Oh Sitt il- Hussun! Oh Sitt il-Hussun!” ele gritou “Você me fez uma grande injustiça!”


“Não fui eu ! Minhas irmãs fizeram isto com você.” ela respondeu.


“Isto não importa mais. Não se preocupe.” disse ele.


Quando as irmãs de Jummez descobriram que ela era a namorada do irmão e que ele queria se casar com ela, disseram: “Você não poderá casar com o nosso irmão enquanto não varrer e esfregar toda esta cidade.”


Sitt il-Hussun começou a chorar, mas Jummez disse, “Vá ao topo da monha e grite ‘Vocês aí, varram ! Vocês aí, esfreguem !’” Ela assim o fez e toda a cidade foi varrida e esfregada.


Vendo que ela havia completado a tarefa, as irmãs de Jummez disseram “ Você não se casará com nosso irmão até que traga penas suficientes para encher dez colchões para o casamento”. Ela, chorando, foi até Jummez, e ele disse “Não tenha medo. Vá ao topo da montanha e repita três vezes, ‘Jummez, Bin Yazur, Chefe dos Pássaros, está morto!’”. Voltando ao topo da montanha, ela repetiu três vezes “Jummez Bin Yazur, Chefe dos Pássaros, está morto!”. Tão logo disse, todas as aves se recolheram e começaram a gemer e se lamentar, arrancando as próprias penas. Logo, havia montes e montes de penas sobre o terreno.


Reunindo as penas, ela levou-as para as irmãs de Jummez, mas elas disseram “Você não pode se casar com nosso irmão até que traga a tapeçaria pendurada na parede da casa do Ogro.


Mais uma vez, Sitt il-Hussun foi chorar junto a Jummez. “Não chore” ,ele confortou-a. “Esta tarefa é fácil ! Vá à casa do Ogro, lá você encontrará carne em frente aos cavalos e cevada em frente aos leões. Troque de lugar a carne e a cevada. Você também encontrará, desabado, o terraço de pedra da casa da Ogra. Conserte-o e, então, entre na casa e pegue a tapeçaria. Mas cuidado ! Se ela roçar na parede, a Ogra despertará.”


Sitt il-Hussun foi para a casa da Ogra e fez tudo conforme Jummez havia dito. Mas quando foi pegar a tapeçaria, ela viu o Ogro dormindo e tremeu de medo. Como estava puxando a tapeçaria, esta raspou contra a parede, provocando um barulho imenso, que acordou o Ogro. Sitt il-Hussun saiu correndo com a tapearia, sendo perseguida pelo Ogro.


“Parede do terraço, capture-a !” rugiu o Ogro."


“Por vinte anos tenho estado desmoronada e ela consertou-me” , disse a parede. “Não vou fazer isso.”


Cavalos, peguem-na!” ordenou o Ogro."


“Por vinte anos não provamos cevada e ela alimentou-nos. Não!”


“Leões, peguem-na !”


“Por vinte anos não temos provado carne, e ela alimentou-nos. Não, não vamos!”


Assim, o Ogro não foi capaz de capturar Sitt il-Hussun e ela levou a tapeçaria e apresentou-a ás irmãs de Jummez. Quando estas verificaram o cumprimento da tarefa, consentiram no casamento.


Houve uma grande celebração e, após a cerimônia de casamento. Jummez Bin Yuzur, Chefe dos Pássaros, levantou Sitt il-Hussun em seus braços e voou com ela para longe.


O PÁSSARO VOOU, E UMA BOA NOITE A TODOS !



(*) Livre tradução, feita por mim, a partir de:

Muhawi, Ibrahim, and Sharif Kanaana. Speak, Bird, Speak Again: Palestinian Arab Folktales. Berkeley: University of California Press, c1989 1989.


Comentário:

O conto acima faz parte de uma coletânea da literatura oral palestinense. As narradoras tradicionais dos mesmos são, fundamentalmente, mulheres idosas.

Tive como objetivo mostrar quanta riqueza existe naquela região. Busquei imagens de crianças palestinenses mas, para minha tristeza, a quase totalidade delas eram de crianças mortas, feridas ou com armas nas mãos.

A imagem que ilustra esta postagem é datada de 16 de janeiro de 2008
(data da postagem no blog citado no crédito). Rezo para a divindade de todos os nomes para que este menino, cercado de cores, ainda esteja vivo !

Não farei um minuto de silêncio pelas crianças de ambos os lados deste massacre insano! Contarei histórias !





Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny