A Pedra da Onça
(Conto tradicional da Ilha do Governador)
Aconteceu no começo do fim do Tempo, quando as grandes canoas, trazendo homens estranhos, navegavam nas águas de Ganabará. Na ilha de Paranapuã, a maior das ilhas banhadas pelas águas de Ganabará, viviam os Temiminós, chefiados pelo bravo Maracajá-Guaçu.
Antes da chegada das grandes canoas, havia trégua entre Temiminós e Tamoios. As águas de Ganabará ofereciam o bom peixe; a mata florescia, o amor florescia. As ondas suaves de Ganabará banharam a primeira noite de amor de um casal temiminó; ele, um jovem caçador e ela, uma bela jovem, cujo corpo tinha o perfume da flor do maracujá. Junto aos dois, um inseparável gato maracajá.
O gato maracajá, que acompanhava a jovem desde que era um filhote, afeiçoara-se ao caçador. Após a união dos dois, dividia o seu tempo: às vezes acompanhava o homem na caça , às vezes permanecia junto à mulher enquanto esta trançava cestos. A mata florescia...O amor florescia... A amizade do gato maracajá pelo casal florescia...
Mas era o começo do fim do Tempo. As grandes canoas navegavam nas águas de Ganabará. Os homens estranhos que delas saíram, começaram a guerrear entre si. A guerra acabou com trégua entre Tamoios e Temiminós...
O bravo caçador partiu da ilha de Paranapuã para guerrear contra os Tamoios e, em uma batalha, foi ferido mortalmente. As águas de Ganabará tingiram-se de vermelho e cobriram seu corpo.
Na ilha , em cima de uma pedra, a jovem e o gato maracajá esperavam pelo retorno do caçador. Do alto da pedra viram passar as quatro fases da lua . A jovem percebeu que seu homem não voltaria mais. Jogou-se nas águas de Ganabará, que cobriram seu corpo como um manto, como haviam feito com seu amado..
Em Paranapuã, o gato maracajá permaneceu no alto da pedra, esperando em vão que as águas devolvessem seus amigos. Tupã, comovido, transformou o gato maracajá em pedra, para que ele pudesse esperar a chegada de um novo Tempo.
A ilha de Paranapuã , que acolhia a todos, foi dada, como propriedade a um homem estranho, vindo nas grandes canoas; passou a chamar-se ILHA DO GOVERNADOR. Mas o gato maracajá permanece no alto da pedra, para lembrar a todos de PARANAPUÃ que houve um tempo em que as águas de Ganabará ofereciam o bom peixe...Que a mata florescia... Que o amor florescia... E QUE ESSE TEMPO HÁ DE VOLTAR.
Recontada por ELIANA RIBEIRO
OU NA VERSÃO TRADICIONAL
"Conta a lenda que uma índia da tribo ali localizada ia todos os dias, no fim da tarde, até a praia, com seu gato maracajá que criava desde filhote e lá ficava a mergulhar da pedra durante horas. Um dia, porém, a jovem índia mergulhou e não mais voltou, ficando o gato a esperá-la, olhando para o mar até não mais agüentar e morrer de fome, apesar da tentativa dos índios em retirá-lo do local.
Essa lenda, não confirmada pelos historiadores, inspirou um grupo de moradores, na década de 1920, a erguer o monumento em homenagem à fidelidade do animal. O artista plástico Guttman Bicho projetou e esculpiu o maracajá,. Em 1965 a estátua original, já bem castigada pelo tempo, foi substituída por outra que lá está até hoje.
Verdade ou não, a lenda atravessou os tempos contada pelos moradores do local e a Pedra da Onça é um lugar mágico onde qualquer pessoa sente um impulso irresistível de sentar numa pedra e ficar observando o mar, como quem espera ver a jovem índia emergir das águas e assim acalmar o espírito do fiel gato maracajá que, com certeza, ainda ronda o local esperando sua dona voltar."
VERSÃO DISPONÍVEL NO SITE DO ROTARY RJ - ILHA DO GOVERNADOR
Em uma das possíveis datas de aniversário da Muy Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro _ região que já foi habitada pelos bravos Tamoios, depois fundada à européia pelos franceses e conquistada pelos portugueses _ quero deixar fluir minha memória carioca. Este gato maracajá, em cima da pedra faz parte da memória de todo insulano e de toda insulana. Desde crianças, nós habitantes de Paranapuã, oficialmente chamada Ilha do Govenador, sabemos que o gato está à espera de sua companheira.
No aniversário da Cidade do Rio de Janeiro, desejo ver a baía da Guanabara, testemunha de nossa história, com suas águas novamente límpidas, fornecendo o bom peixe e banhando o povo carioca.
Um grande abraço para todos nós, que amamos esta cidade !
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