Ontem contei uma história em seminário promovido pelo CEAP (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas). Originariamente um Itan do Oráculo de Ifá, a história O Caçador que matou o Pássaro _ publicada sob a forma de reconto dirigido ao público infantojuvenil , por Reginaldo Prandi, no livro Ifá, o adivinho _ é uma de minhas preferidas.
Considero que uma história contada em contexto de seminários, cursos ou centro de estudos tem o dom de provocar reflexão e debates. Desta vez não foi diferente...
Considero que uma história contada em contexto de seminários, cursos ou centro de estudos tem o dom de provocar reflexão e debates. Desta vez não foi diferente...
Antes de entrar no debate provocado pela narrativa, cumpre um esclarecimento para quem não conhece meu trabalho. Conto histórias de Orixás, tenho o cuidado de contá-las a partir de publicações, ou seja, espero que as mesmas sejam disponibilizadas para todos e aí então as conto. Não sou iniciada em religiões de matriz africana, tenho-lhes grande respeito e acredito que narrar seus mitos é uma forma de trabalhar contra a intolerância. Minha experiência profissional me demonstra que escolhi um caminho viável, que venho trilhando com muito estudo e, principalmente, com muito respeito. Mas é terreno delicado, bem sei...
Não me surpreendeu, portanto, quando ao final da história e das excelentes exposições dos palestrantes, fui inquirida por pessoa de grande conhecimento e iniciada no sacerdócio de Ifá quanto à palavra que seria proibida e eu a havia pronunciado (pois estava no texto da história). Corretíssimo aparte, feito com gentileza e afeto.
Sob a ótica da tradição do Ifá, estas histórias são narradas pelos pais do segredo - babalaôs, nunca por mulheres; e um nome, o da entidade feminina de maior poder, não pode jamais ser pronunciado. Acontece que este nome está registrado em vários livros -inclusive neste, de onde retirei a história.
Foi aberto, então, um bom debate. Até que ponto é desrespeito narrar o que é considerado tabu para um determinado grupo e até que ponto é válido, de maneira respeitosa, narrar o que já está publicado por pesquisadores sérios, comprometidos com o livre pensamento e a tolerância religiosa ? É, de fato, um debate que só será fecundo se travado em toda a sua complexidade. A história cumpriu sua função.
Sob a ótica da tradição do Ifá, estas histórias são narradas pelos pais do segredo - babalaôs, nunca por mulheres; e um nome, o da entidade feminina de maior poder, não pode jamais ser pronunciado. Acontece que este nome está registrado em vários livros -inclusive neste, de onde retirei a história.
Foi aberto, então, um bom debate. Até que ponto é desrespeito narrar o que é considerado tabu para um determinado grupo e até que ponto é válido, de maneira respeitosa, narrar o que já está publicado por pesquisadores sérios, comprometidos com o livre pensamento e a tolerância religiosa ? É, de fato, um debate que só será fecundo se travado em toda a sua complexidade. A história cumpriu sua função.
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