"QUE A ÁGUA SEJA REFRESCANTE. QUE O CAMINHO SEJA SUAVE. QUE A CASA SEJA HOSPITALEIRA. QUE O MENSAGEIRO CONDUZA EM PAZ NOSSA PALAVRA."
Benção Yoruba

quinta-feira, maio 15, 2008

Dia Internacional de Histórias de Vida - Espaço para postagem de histórias



Espaço para postagem de histórias de vida

Olá !

Vamos combinar o seguinte:

As histórias serão postadas aqui, como comentários. Em seguida as copiarei para a postagem definitiva.

Um grande abraço

Eliana


Anônimo Drika disse...

Fui "intimada" ontem a escrever uma das minhas histórias de vida.Passei as últimas 24 horas pensando qual contar,uma vez que tenho muitas,algumas tristes,outras alegres.Mas,como acho que na vida nada é por acaso,escolhi uma que tem tudo a ver com o 16 de maio para mim.

Vivi 19 anos ao lado do meu pai.Foram poucos anos para o muito que deixei de aprender com ele, porém muitos para a enorme quantidade de brigas que tínhamos.

Filha única,perdi minha mãe aos 8 anos de idade(essa é uma história a parte que outro dia conto),e meu pai passou a ser um pai-mãe,como ele mesmo dizia.Tornou-se um pai super protetor e nossa diferença de idade,47 anos,piorou nosso relacionamento,quando entrei na adolescência.

Nada,praticamente,ele deixava eu fazer.Eu não podia ficar de papo no telefone,como todas adolescentes ficavam,não podia ir ao cinema com amigas.Nas festas,quando ele deixava ir,eu só podia ficar até às 22:00,horário esse também limite para eu ver televisão.Estudar era minha única obrigação,e a mais cobrada por ele,fosse o dia que fosse,sábado,domingo,férias,ele fazia-me estudar.Eu não tinha vida de uma adolescente normal,eu não tinha liberdade,o que deixava-me, a cada dia,mais revoltada em não poder ser como as outras meninas da minha idade eram.

Eu sentia que ele não confiava em mim,quando na verdade,muitos anos depois, descobri que ele não confiava nos outros.

Com minha revolta,passei a "bater de frente" com ele.Quanto mais tempo passava,mais discutíamos,mais brigávamos,mais nos afastávamos.Quanto mais ele proibia algo,mais eu queria fazer aquilo em questão.

Muitas vezes,revoltada e magoada,dizia coisas que eu não deveria dizer,com o intuito de magoá-lo também.E questionava Deus, por ter levado minha mãe e não meu pai.

Tínhamos muitas diferenças de pensamentos e quanto mais eu o contrariava,deixáva-o irritado.As coisas tinham que ser como ele queria.Na verdade,tudo que ele fazia era pensando em meu bem,sem perceber que tais atitudes poderiam ser mais prejudiciais do que ele podia imaginar(um dia crescemos e a vida fora de nossa casa não é a de um conto de fadas).

Apesar de tudo,eu sabia que ele me amava,assim como eu o amava,e nosso erro maior foi nunca dizermos isso um ao outro,de não demonstrarmos nosso afeto.
Ele era "cabeça dura" e eu também,bem filha dele.Lamento ter sido tão imatura e orgulhosa naquela época para não ter relevado nossas brigas.

Exatos 14 anos se passaram de sua partida.O tempo,senhor de todas razões,trouxe-me a maturidade necessária e dissipou o orgulho bobo que eu tinha,não tendo medo hoje de dizer eu te amo a quem eu queira,de demonstrar meus sentimentos,de relevar e perdoar brigas.

Apesar de nossas brigas,meu pai era um homem de caráter,de palavra,de princípios,e foram essas qualidades que ele deixou-me de herança.

Aprendi que não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.Poderá ser tarde demais.Diga eu te amo aos seus pais,familiares,amigos,amores...

9:58 PM



Anônimo Elizabeth Almeida disse...

Uma história de vida

Era o meu terceiro ano na escola, sempre como professora de 8ª série.
Logo no primeiro dia de aula, observei um aluno que sentou-se na primeira carteira e parecia hipnotizado por mim, pois seus olhos me acompanhavam atentamente durante todo o tempo em que estive na sala.


Quando bateu o sinal, o último da manhã, encerrando as aulas, a maior parte dos alunos se retirou apressada, mas um pequeno grupo permaneceu, retirando-se junto comigo. Entre eles estava o Daniel*, que timidamente se ofereceu para levar meu material, a caixinha de giz e tudo o mais que pudesse. Cedi ao pedido e acabei distribuindo entre eles tudo o que carregava. Ao chegarmos ao térreo, vencendo a timidez que o sufocava, ele me perguntou se lembrava do Jander, que havia sido meu aluno dois anos antes. Imediatamente disse que sim, que era um ótimo aluno, muito participativo. Um sorriso iluminou o seu rosto e ele me disse: “Então, professora, ele é meu irmão”.


Retribuí o sorriso e mandei-lhe um beijo carinhoso.


O tempo foi passando e o menino continuava ali, sempre na primeira fila, me seguindo e pouco falando, mas participando ativamente de todas as atividades propostas, sempre timidamente.


Descobri que a maior parte dos alunos nunca havia saído da Ilha do Governador e que nenhum aluno da turma tinha ido ao teatro. Aquilo me incomodou tremendamente e passei a tramar uma forma de levá-los a um “descobrimento cultural”. Como não trabalhava às sextas à tarde, propus a eles fazermos passeios culturais, sempre que eles e eu pudéssemos. Seria uma atividade extra-escolar, mas com autorização por escrito dos responsáveis e sairíamos juntos da porta da escola e voltaríamos juntos também, para o local de saída de onde partiriam para suas casas.


Assim fomos ao Museu Nacional de Belas Artes e ao Paço Imperial, locais que nos receberam sem ônus.


Nesta época entrou em cartaz “O auto da compadecida”, de Ariano Suassuna, com um amigo no papel de João Grilo. Conversei com ele e perguntei se não haveria possibilidades de fazer a peça num horário mais cedo e por um preço mínimo para que levasse os alunos. Dias depois meu amigo me avisou que a minha idéia foi a mesma de vários professores e que por conta disso haveria um dia/horário especial por um valor simbólico de R$5,00.


Contei para a turma, que imediatamente se mobilizou e marcamos o teatro para 15 dias à frente.


Na hora de recolher o dinheiro dos ingressos, descobri que o Daniel não fazia parte do grupo. Procurei-o para saber o que estava acontecendo, se o motivo era financeiro, e ele me disse que o pai não havia permitido, pois não gostava que saíssem de casa, a não ser para a escola, por causa da violência na comunidade em que morava. Não me conformei e me ofereci para falar com o pai pelo telefone. Assim foi feito e disse-lhe que o ingresso seria por minha conta, conquistando o consentimento do pai.


Na data marcada fomos para o teatro. Terminada a peça, meu amigo os convidou para conhecer o palco, que os deixasse a vontade e matassem a curiosidade enquanto se trocava.


Os alunos se espalharam curiosos por todos os cantos, quando o Daniel me chamou agitado, suando muito, para me mostrar uma descoberta. “Professora, corre, vem ver o que eu descobri!”, disse ansioso. Seus olhos brilhavam e o peito arfava. Acompanhei-o até um piano que ele abriu, dizendo: “Olha, é um piano”! Alguns colegas começaram a debochar dele, pois era “só um piano, e daí?”.


Ignorando a tudo e a todos ele disse que tocaria uma coisa para mim. Em pé mesmo, comigo ao seu lado, ele começou a tocar a Marcha fúnebre.
Logicamente a turma toda cercou o piano e logo nos primeiros acordes, ao reconhecerem a música, riam dele, zoando muito e dizendo: “Olha só o que o maluco tá tocando pra professora!”.


Talvez influenciada pela zoação dos colegas, um pouco constrangida, mas pedi silêncio e tratei de elogiá-lo, perguntando se estudava piano há muito tempo, pois era uma peça clássica, difícil de tocar. Ele então me contou que nunca estudara piano, apenas ganhara um teclado que o tio consertou. Ele comprou um livrinho no jornaleiro e foi aprendendo, sozinho.


O silêncio estabelecido para acompanhar nosso diálogo se desfez com a presença do meu amigo, logo cercado de abraços e perguntas dos alunos.


No caminho de volta para casa, vim pensando em cada momento vivido na companhia dos meus meninos. Quantas descobertas de todos nós, quantas emoções!...


Para completar, na segunda-feira ele veio me pagar o ingresso, com 5 notas emboladas de R$ 1,00. Tentei recusar, afirmando que foi uma gratuidade concedida pelo meu amigo, mas foi impossível. Aquele menino sempre calado e cabisbaixo me olhava de frente, olho no olho, dizendo orgulhosamente: “Eu faço questão, professora!” Obviamente tive que aceitar.


Na semana seguinte comecei uma busca frenética por alguém que pudesse lhe dar aulas de piano de graça. Só encontrava parceiros fora da Ilha, o que tornava impossível a realização do agora nosso sonho. Comentava sobre minha frustração com uma amiga na saída da escola que estava acompanhada de uma pessoa que realizava um trabalho voluntário de coral na escola que ouviu tudo em silêncio e no final me surpreendeu com a frase: “Mande o menino a minha casa amanhã à tarde, eu darei aula para ele”.


Imediatamente procurei por Daniel e dei-lhe a notícia, o que provocou nova negociação pela autorização paterna, mais uma vez concedida.


Nos dias seguintes pude observar a transformação dele. Aquele menino tímido e quase solitário, pouco a pouco deixava de olhar para o chão e para mim somente. Sorria
com freqüência, conversava alegremente com os colegas, cada vez mais prestativo e participante. Era agora respeitado e solicitado por todos para ajudar em qualquer tarefa.
Durante a realização de um projeto desenvolvido na escola pode mostrar seus dotes artísticos, ajudando na confecção dos cartazes finais com desenhos espetaculares, em preto e branco, transformando em realidade o que os colegas imaginavam.


O ano terminou e Daniel continuou com as aulas particulares impressionando a professora com seu dom e aplicação. Prestou concurso para a Escola Técnica de Música e foi aprovado. Começou a trabalhar no aeroporto e pouco tempo depois foi chamado para trabalhar no jornal O Globo, o que acabou por prejudicar seus estudos de música por conta dos inúmeros cursos que foi obrigado a fazer.


Faz um tempo não tenho notícias do Daniel, mas tenho certeza que se transformou em um grande homem.

8:09 PM



2 comentários:

Anônimo disse...

Fui "intimada" ontem a escrever uma das minhas histórias de vida.Passei as últimas 24 horas pensando qual contar,uma vez que tenho muitas,algumas tristes,outras alegres.Mas,como acho que na vida nada é por acaso,escolhi uma que tem tudo a ver com o 16 de maio para mim.

Vivi 19 anos ao lado do meu pai.Foram poucos anos para o muito que deixei de aprender com ele, porém muitos para a enorme quantidade de brigas que tínhamos.

Filha única,perdi minha mãe aos 8 anos de idade(essa é uma história a parte que outro dia conto),e meu pai passou a ser um pai-mãe,como ele mesmo dizia.Tornou-se um pai super protetor e nossa diferença de idade,47 anos,piorou nosso relacionamento,quando entrei na adolescência.

Nada,praticamente,ele deixava eu fazer.Eu não podia ficar de papo no telefone,como todas adolescentes ficavam,não podia ir ao cinema com amigas.Nas festas,quando ele deixava ir,eu só podia ficar até às 22:00,horário esse também limite para eu ver televisão.Estudar era minha única obrigação,e a mais cobrada por ele,fosse o dia que fosse,sábado,domingo,férias,ele fazia-me estudar.Eu não tinha vida de uma adolescente normal,eu não tinha liberdade,o que deixava-me, a cada dia,mais revoltada em não poder ser como as outras meninas da minha idade eram.

Eu sentia que ele não confiava em mim,quando na verdade,muitos anos depois, descobri que ele não confiava nos outros.

Com minha revolta,passei a "bater de frente" com ele.Quanto mais tempo passava,mais discutíamos,mais brigávamos,mais nos afastávamos.Quanto mais ele proibia algo,mais eu queria fazer aquilo em questão.

Muitas vezes,revoltada e magoada,dizia coisas que eu não deveria dizer,com o intuito de magoá-lo também.E questionava Deus, por ter levado minha mãe e não meu pai.

Tínhamos muitas diferenças de pensamentos e quanto mais eu o contrariava,deixáva-o irritado.As coisas tinham que ser como ele queria.Na verdade,tudo que ele fazia era pensando em meu bem,sem perceber que tais atitudes poderiam ser mais prejudiciais do que ele podia imaginar(um dia crescemos e a vida fora de nossa casa não é a de um conto de fadas).

Apesar de tudo,eu sabia que ele me amava,assim como eu o amava,e nosso erro maior foi nunca dizermos isso um ao outro,de não demonstrarmos nosso afeto.
Ele era "cabeça dura" e eu também,bem filha dele.Lamento ter sido tão imatura e orgulhosa naquela época para não ter relevado nossas brigas.

Exatos 14 anos se passaram de sua partida.O tempo,senhor de todas razões,trouxe-me a maturidade necessária e dissipou o orgulho bobo que eu tinha,não tendo medo hoje de dizer eu te amo a quem eu queira,de demonstrar meus sentimentos,de relevar e perdoar brigas.

Apesar de nossas brigas,meu pai era um homem de caráter,de palavra,de princípios,e foram essas qualidades que ele deixou-me de herança.

Aprendi que não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.Poderá ser tarde demais.Diga eu te amo aos seus pais,familiares,amigos,amores...

Anônimo disse...

Uma história de vida

Era o meu terceiro ano na escola, sempre como professora de 8ª série.
Logo no primeiro dia de aula, observei um aluno que sentou-se na primeira carteira e parecia hipnotizado por mim, pois seus olhos me acompanhavam atentamente durante todo o tempo em que estive na sala.
Quando bateu o sinal, o último da manhã, encerrando as aulas, a maior parte dos alunos se retirou apressada, mas um pequeno grupo permaneceu, retirando-se junto comigo. Entre eles estava o Daniel*, que timidamente se ofereceu para levar meu material, a caixinha de giz e tudo o mais que pudesse. Cedi ao pedido e acabei distribuindo entre eles tudo o que carregava. Ao chegarmos ao térreo, vencendo a timidez que o sufocava, ele me perguntou se lembrava do Jander, que havia sido meu aluno dois anos antes. Imediatamente disse que sim, que era um ótimo aluno, muito participativo. Um sorriso iluminou o seu rosto e ele me disse: “Então, professora, ele é meu irmão”.
Retribuí o sorriso e mandei-lhe um beijo carinhoso.
O tempo foi passando e o menino continuava ali, sempre na primeira fila, me seguindo e pouco falando, mas participando ativamente de todas as atividades propostas, sempre timidamente.
Descobri que a maior parte dos alunos nunca havia saído da Ilha do Governador e que nenhum aluno da turma tinha ido ao teatro. Aquilo me incomodou tremendamente e passei a tramar uma forma de levá-los a um “descobrimento cultural”. Como não trabalhava às sextas à tarde, propus a eles fazermos passeios culturais, sempre que eles e eu pudéssemos. Seria uma atividade extra-escolar, mas com autorização por escrito dos responsáveis e sairíamos juntos da porta da escola e voltaríamos juntos também, para o local de saída de onde partiriam para suas casas.
Assim fomos ao Museu Nacional de Belas Artes e ao Paço Imperial, locais que nos receberam sem ônus.
Nesta época entrou em cartaz “O auto da compadecida”, de Ariano Suassuna, com um amigo no papel de João Grilo. Conversei com ele e perguntei se não haveria possibilidades de fazer a peça num horário mais cedo e por um preço mínimo para que levasse os alunos. Dias depois meu amigo me avisou que a minha idéia foi a mesma de vários professores e que por conta disso haveria um dia/horário especial por um valor simbólico de R$5,00.
Contei para a turma, que imediatamente se mobilizou e marcamos o teatro para 15 dias à frente.
Na hora de recolher o dinheiro dos ingressos, descobri que o Daniel não fazia parte do grupo. Procurei-o para saber o que estava acontecendo, se o motivo era financeiro, e ele me disse que o pai não havia permitido, pois não gostava que saíssem de casa, a não ser para a escola, por causa da violência na comunidade em que morava. Não me conformei e me ofereci para falar com o pai pelo telefone. Assim foi feito e disse-lhe que o ingresso seria por minha conta, conquistando o consentimento do pai.
Na data marcada fomos para o teatro. Terminada a peça, meu amigo os convidou para conhecer o palco, que os deixasse a vontade e matassem a curiosidade enquanto se trocava.
Os alunos se espalharam curiosos por todos os cantos, quando o Daniel me chamou agitado, suando muito, para me mostrar uma descoberta. “Professora, corre, vem ver o que eu descobri!”, disse ansioso. Seus olhos brilhavam e o peito arfava. Acompanhei-o até um piano que ele abriu, dizendo: “Olha, é um piano”! Alguns colegas começaram a debochar dele, pois era “só um piano, e daí?”.
Ignorando a tudo e a todos ele disse que tocaria uma coisa para mim. Em pé mesmo, comigo ao seu lado, ele começou a tocar a Marcha fúnebre.
Logicamente a turma toda cercou o piano e logo nos primeiros acordes, ao reconhecerem a música, riam dele, zoando muito e dizendo: “Olha só o que o maluco tá tocando pra professora!”.
Talvez influenciada pela zoação dos colegas, um pouco constrangida, mas pedi silêncio e tratei de elogiá-lo, perguntando se estudava piano há muito tempo, pois era uma peça clássica, difícil de tocar. Ele então me contou que nunca estudara piano, apenas ganhara um teclado que o tio consertou. Ele comprou um livrinho no jornaleiro e foi aprendendo, sozinho.
O silêncio estabelecido para acompanhar nosso diálogo se desfez com a presença do meu amigo, logo cercado de abraços e perguntas dos alunos.
No caminho de volta para casa, vim pensando em cada momento vivido na companhia dos meus meninos. Quantas descobertas de todos nós, quantas emoções!...
Para completar, na segunda-feira ele veio me pagar o ingresso, com 5 notas emboladas de R$ 1,00. Tentei recusar, afirmando que foi uma gratuidade concedida pelo meu amigo, mas foi impossível. Aquele menino sempre calado e cabisbaixo me olhava de frente, olho no olho, dizendo orgulhosamente: “Eu faço questão, professora!” Obviamente tive que aceitar.
Na semana seguinte comecei uma busca frenética por alguém que pudesse lhe dar aulas de piano de graça. Só encontrava parceiros fora da Ilha, o que tornava impossível a realização do agora nosso sonho. Comentava sobre minha frustração com uma amiga na saída da escola que estava acompanhada de uma pessoa que realizava um trabalho voluntário de coral na escola que ouviu tudo em silêncio e no final me surpreendeu com a frase: “Mande o menino a minha casa amanhã à tarde, eu darei aula para ele”.
Imediatamente procurei por Daniel e dei-lhe a notícia, o que provocou nova negociação pela autorização paterna, mais uma vez concedida.
Nos dias seguintes pude observar a transformação dele. Aquele menino tímido e quase solitário, pouco a pouco deixava de olhar para o chão e para mim somente. Sorria
com freqüência, conversava alegremente com os colegas, cada vez mais prestativo e participante. Era agora respeitado e solicitado por todos para ajudar em qualquer tarefa.
Durante a realização de um projeto desenvolvido na escola pode mostrar seus dotes artísticos, ajudando na confecção dos cartazes finais com desenhos espetaculares, em preto e branco, transformando em realidade o que os colegas imaginavam.
O ano terminou e Daniel continuou com as aulas particulares impressionando a professora com seu dom e aplicação. Prestou concurso para a Escola Técnica de Música e foi aprovado. Começou a trabalhar no aeroporto e pouco tempo depois foi chamado para trabalhar no jornal O Globo, o que acabou por prejudicar seus estudos de música por conta dos inúmeros cursos que foi obrigado a fazer.
Faz um tempo não tenho notícias do Daniel, mas tenho certeza que se transformou em um grande homem.