" Quando chegaste mais velhos contavam estórias. Tudo estava no seu lugar. A água. O som. A luz. Na nossa harmonia. O texto oral. E só era texto não apenas pela fala mas porque havia árvores, parrelas sobre o crepitar de braços da floresta. E era texto porque havia gesto. Texto porque havia dança. Texto porque havia ritual. Texto falado ouvido visto. É certo que podias ter pedido para ouvir e ver as estórias que os mais velhos contavam quando chegaste! Mas não! Preferiste disparar os canhões. A partir daí comecei a pensar que tu não eras tu, mas outro, por me parecer difícil aceitar que da tua identidade fazia parte esse projeto de chegar e bombardear o meu texto. Mais tarde viria a constatar que detinhas mais outra arma poderosa além do canhão: a escrita. E que também sistematicamente no texto que fazias escrito inventavas destruir o meu texto ouvido e visto. Eu sou eu e a minha identidade nunca a havia pensado integrando a destruição do que não me pertence."
MANUEL RUY. Eu e o Outro - o invasor ou em poucas três linhas, uma maneira de pensar o texto.
Comunicação apresentada no Encontro PERFIL DA LITERATURA NEGRA, São Paulo, Brasil, 23/05/1985.
MANUEL RUY é escritor angolano, da cidade de Huambo, nascido m 1941.
Sou grata à professora Janete Ribeiro pelo envio do belíssimo texto de Manuel Ruy.
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