"QUE A ÁGUA SEJA REFRESCANTE. QUE O CAMINHO SEJA SUAVE. QUE A CASA SEJA HOSPITALEIRA. QUE O MENSAGEIRO CONDUZA EM PAZ NOSSA PALAVRA."
Benção Yoruba

domingo, setembro 28, 2008

Uma contadora de histórias na encruzilhada


Em 26 de setembro, apresentei o trabalho A sala de aula como encruzilhada: uma experiência com narrativas da mitologia yoruba em escolas da rede municipal da cidade do Rio de Janeiro, no IX Congresso da Associação Latino Americana de Estudos Afro-Asiáticos. Fiz parte do Grupo de Trabalho que abordou as diversas experiências em educação.

Com certeza, a apresentação foi a menos acadêmica do dia. Isto significa que apostei na oralidade: iniciei contando uma história e, a partir dela construí minha Palavra. Percebi que a forma de apresentar o tema, apesar de muito bem recebida, causou um pouco de perplexidade. Parece que a performance da oralidade, para utilizar um termo de Paul Zumthor, ao mesmo tempo que fascina, deixa o público, ainda sem saber como classificá-la _ o que em termos acadêmicos me parece ser um pouco desconfortável. Houve o maravilhoso, entendido aqui como a forma de expressar a potencialidade, o desejo , o sutil e a instância da vida que não é passível de quantificação e controle, mas não a reflexão coletiva sobre o papel educacional deste.

Já admirava o trabalho da Azoilda Loretto, a coordeadora do GT; mas esta aposta na contação de histórias dexou-me emocionada e fortalecida: antes de inicarmos, ela perguntou "Você vai contar histórias, não vai ?" e, ao final do dia instou: "Você volta amanhã para contar histórias."

No segundo dia do encontro, dia 27, tornei a contar uma história que, levando em conta a data, foi dos Ibejis. Neste dia a oralidade e seus valores _ o corpo expressivo, o ouvir, a roda, a ancestralidade _ foi mais aprofundada. Tratou-se dos valores do samba, da capoeira e de uma experiência em se trabalhar a partir da cultura brasileira com turmas de aceleração. Todos estes temas , e aí incluo, também, as turmas de aceleração das escolas do município do Rio de Janeiro, tangenciam as instâncias da educação formal. Saí de lá com a sensação que todo o movimento, ritmo, sabor é muito bem aceito desde que reconheça o seu lugar... E qual é este lugar?

Como vocês podem perceber, foi um encontro de extrema fecundidade. Saí de lá com muitas questões quanto à necessidade de incluirmos os valores da oralidade em todos os níveis do ensino formal e, principalmente, senti redobrada a responsabilidade (deliciosa) dos contadores de histórias. Mesmo correndo o risco de me tornar repetitiva, nunca é demais chamar atenção para o fato que, embora tenhamos o aroma dos quatro elementos, não somos perfumaria, mas agentes de um processo de transformação social que passa por rememorar nossa mais antiga forma de fazer política: sentarmo-nos em volta do fogo, em círculo, e trocarmos nossas experiências significativas, utilizando a linguagem cheia de imagens e de flores.

COMO NÃO SOLICITEI A PERMISSÃO PARA UTILIZAR A IMAGEM DAS PESSOAS PRESENTES, PRECISEI DESFOCAR SEUS ROSTOS.

PRODUZI UM TEXTO SOBRE O TEMA. LOGO ELE ESTARÁ DISPONÍVEL AQUI NO !PONTO DO CONTO.

Um comentário:

Fátima Campilho disse...

E que transformação, Eliana, lenta e, muitas vezes, incompreendida, mas necessária!
Abraços.