“Mãos negras que falam... A Criação da Palavra na Encruzilhada dos Povos.
Eliana Nunes Ribeiro: Arteterapeuta ( AARJ – 143); Cientista Social (UFRJ); Mestre em História Social da Cultura (PUC – RJ); Docente da Secretaria Municipal de Ensino do Rio de Janeiro : Contadora de Histórias.
O imaginário coletivo do Ser chamado brasileiro é prenhe de mitos, provindos de várias matrizes culturais_ indígenas, européias e africanas. A circulação dos diversos mitologemas, contudo, está longe de ser igualitária. Caminha entre expressões e repressões.
Cada mito sistematizado por quaisquer das matrizes culturais que nos formam enquanto povo será, ao ser contado, uma encruzilhada _ espaço de confluência e recriação cultural_ na qual circularão projeções positivas ou negativas. Pensar nos encontros e desencontros entre as diversas narrativas míticas é pensar na dinâmica da psique brasileira _ esse grande caldeirão alquímico, nossa Alma* multifacetada..
Parte de nossa Alma é fruto de um sequestro _ o tráfico de escravos _ que arrancou, violentamente, nossos ancestrais negros de suas terras. Os mais diversos símbolos vieram a bordo dos navios negreiros, na maioria das vezes, sem o apoio de qualquer objeto material que os contivesse. Vieram na memória, nas histórias contadas.
No projeto civilizatório _ controlado pelo racionalismo europeu, tendo no monoteísmo cristão o grande doador de humanidade, estabelecendo uma alma cristã, através do batismo _ as imagens arquetípicas formadas no continente africano, e reinventadas nas Américas, foram relegadas à sombra.
Teríamos, então o que é chamado por Gambini de preconceito anímico e ditadura psíquica: uma terra de “pretos de alma branca”, onde a alma negra, ou não seria considerada alma ou seria concebida como depositária de defeitos ou de inferioridades. Rejeitar parte da alma é rejeitar parte dos mitos.
O fazer histórico da Alma pressupõe ouvir e contar histórias, pois estas tocam camadas arquetípicas, vivificam. A ação de ouvir e contar histórias não pode ser feita, unilateralmente, pelo intelecto, mas pela vivência , englobando as emoções. Ë ação terapêutica, pois traz a possibilidade de restaurar todo um processo de simbolização. .
Revisitar as histórias afro-brasileiras, seus mitologemas, é tirar da sombra um repertório; fazer circular imagens negadas. Para o Arteterapeuta, acrescenta um caminho a mais para compreensão dos significados coletivos de símbolos materializados durante o processo terapêutico. Faz parte de um trabalho de resgate coletivo da polifonia e policromia constituída de dores, massacres e sequestros, que constituem as histórias que a história oficial ainda não reconhece e que fazem parte do imaginário, da biografia de cada brasileiro ou brasileira.
Bibliografia:
PHILIPPINI, Ângela. Cartografias da Coragem – Rotas em Arte Terapia. Rio
de Janeiro, POMAR, 2001
FORD, Clyde W. O Herói com Rosto Africano : mitos da África. São Paulo:
Summus, 1999.
GAMBINI, Roberto & DIAS, Lucy. Outros 500: uma conversa sobre a alma
brasileira. São Paulo: Editora SENAC: São
Paulo, 1999.
GAMBINI, Roberto. O Espelho Índio: os jesuítas e a destruição da alma
indígena. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1998.
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás, deuses iorubás na África e no Novo
Mundo. 5ª edição, Salvador: Corrupio, 1997.
WHITMONT, Edward C. A Busca do Símbolo: Conceitos básicos de
Psicologia Analítica. São Paulo: Editora Cultrix,
1995.
* O termo Alma é utilizado, aqui, sem conotação religiosa.
Eliana Nunes Ribeiro: Arteterapeuta ( AARJ – 143); Cientista Social (UFRJ); Mestre em História Social da Cultura (PUC – RJ); Docente da Secretaria Municipal de Ensino do Rio de Janeiro : Contadora de Histórias.
O imaginário coletivo do Ser chamado brasileiro é prenhe de mitos, provindos de várias matrizes culturais_ indígenas, européias e africanas. A circulação dos diversos mitologemas, contudo, está longe de ser igualitária. Caminha entre expressões e repressões.
Cada mito sistematizado por quaisquer das matrizes culturais que nos formam enquanto povo será, ao ser contado, uma encruzilhada _ espaço de confluência e recriação cultural_ na qual circularão projeções positivas ou negativas. Pensar nos encontros e desencontros entre as diversas narrativas míticas é pensar na dinâmica da psique brasileira _ esse grande caldeirão alquímico, nossa Alma* multifacetada..
Parte de nossa Alma é fruto de um sequestro _ o tráfico de escravos _ que arrancou, violentamente, nossos ancestrais negros de suas terras. Os mais diversos símbolos vieram a bordo dos navios negreiros, na maioria das vezes, sem o apoio de qualquer objeto material que os contivesse. Vieram na memória, nas histórias contadas.
No projeto civilizatório _ controlado pelo racionalismo europeu, tendo no monoteísmo cristão o grande doador de humanidade, estabelecendo uma alma cristã, através do batismo _ as imagens arquetípicas formadas no continente africano, e reinventadas nas Américas, foram relegadas à sombra.
Teríamos, então o que é chamado por Gambini de preconceito anímico e ditadura psíquica: uma terra de “pretos de alma branca”, onde a alma negra, ou não seria considerada alma ou seria concebida como depositária de defeitos ou de inferioridades. Rejeitar parte da alma é rejeitar parte dos mitos.
O fazer histórico da Alma pressupõe ouvir e contar histórias, pois estas tocam camadas arquetípicas, vivificam. A ação de ouvir e contar histórias não pode ser feita, unilateralmente, pelo intelecto, mas pela vivência , englobando as emoções. Ë ação terapêutica, pois traz a possibilidade de restaurar todo um processo de simbolização. .
Revisitar as histórias afro-brasileiras, seus mitologemas, é tirar da sombra um repertório; fazer circular imagens negadas. Para o Arteterapeuta, acrescenta um caminho a mais para compreensão dos significados coletivos de símbolos materializados durante o processo terapêutico. Faz parte de um trabalho de resgate coletivo da polifonia e policromia constituída de dores, massacres e sequestros, que constituem as histórias que a história oficial ainda não reconhece e que fazem parte do imaginário, da biografia de cada brasileiro ou brasileira.
Bibliografia:
PHILIPPINI, Ângela. Cartografias da Coragem – Rotas em Arte Terapia. Rio
de Janeiro, POMAR, 2001
FORD, Clyde W. O Herói com Rosto Africano : mitos da África. São Paulo:
Summus, 1999.
GAMBINI, Roberto & DIAS, Lucy. Outros 500: uma conversa sobre a alma
brasileira. São Paulo: Editora SENAC: São
Paulo, 1999.
GAMBINI, Roberto. O Espelho Índio: os jesuítas e a destruição da alma
indígena. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1998.
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás, deuses iorubás na África e no Novo
Mundo. 5ª edição, Salvador: Corrupio, 1997.
WHITMONT, Edward C. A Busca do Símbolo: Conceitos básicos de
Psicologia Analítica. São Paulo: Editora Cultrix,
1995.
* O termo Alma é utilizado, aqui, sem conotação religiosa.
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